sábado, 19 de julho de 2014

Conselho Regional de Psicologia do Paraná constitui grupo para estudar as experiências anômalas

(Do site do CRP-PR):

1.    Poderíamos obter informações sem o uso dos sentidos sensoriais?
2.    Perceber os sentimentos/pensamentos ou sensações de alguém sem que isso fosse mediado pelos meios conhecidos?
3.    Afetar a fisiologia de outra pessoa (ou outro ser vivo) somente pela intenção mental, exercida à distância, sem que isso pudesse ser atribuído ao efeito placebo?
4.    Afetar o mundo físico pela intensão mental, sem o uso de tecnologia?
5.    Pressentir fatos do futuro, sem que isto seja fruto de deduções com base em informações e/ou experiências do passado e do presente?
6.    E as pessoas que sentem seu foco de consciência num local diferente de seu corpo físico? Ou relatam terem sido abduzidas por seres alienígenas? Terem experiências místicas, de quase morte, de contato com seres aparentemente espirituais?
7.    Seriam transtornos mentais? Crenças, vieses cognitivos, interpretações equivocadas? Falsas memórias, simples coincidências?
8.    Poderiam existir fatos (fenômenos não compreendidos pelo conhecimento científico atual) subjacentes a estas e outras experiências anômalas (EAs)?

Estudos em várias culturas sugerem que cerca de 50% das pessoas relata ter tido ao menos uma dessas experiências. No Brasil este valor sobe para mais de 80%¹ E mais, a maior parte destas pessoas assinalou ter sido influenciada pelas EAs em termos de suas atitudes, crenças e tomadas de decisão.

Mas, a psicologia estuda isso?
Várias abordagens têm considerado estas experiências.
Atualmente, vemos uma nova área, a Psicologia Anomalística!
Presente em várias universidades no mundo e no Brasil!

Interessou-lhe o tema?
Então venha conhecer o GIEPA. O primeiro encontro será no dia 25/7/14, das 19h as 21h, na sede do CRP-PR. Confirme sua presença pelo e-mail comissoes08@crppr.org.br.

Coordenação:
Psic. Fabio Eduardo da Silva (CRP-08/13866)

(1) MACHADO, F. R. Experiências anômalas na vida cotidiana: Experiências extra-sensório-motoras e sua associação com crenças, atitudes e bem-estar subjetivo. 2009. 344p. Tese (Doutorado) - Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Estudos avaliam o perfil psicológico de médiuns espíritas

Por que algumas pessoas alegam servir de intermediárias para que os espíritos de pessoas falecidas supostamente se comuniquem com os vivos? Quais as razões por trás da alegação de algumas pessoas de que não são elas as autoras de certos escritos ou mesmo desenhos e pinturas, mas sim os mortos, que atuariam por seu intermédio, expressando ideias ou imagens que os médiuns dizem depois não reconhecer como de sua própria autoria? Além das interpretações religiosas e metafísicas disponíveis, o que a psicologia tem a nos dizer sobre esse tema, o da mediunidade? As respostas para tais perguntas são necessariamente complexas, mas tem sido aos poucos elucidadas pelos pesquisadores.

Os espíritas chamam de "psicografia" ao fenômeno psicológico da escrita automática e acreditam que o espírito de pessoas falecidas atuariam sobre o indivíduo, sugestionando-lhe certas ideias ou agindo de alguma forma sobre sua motricidade. Será?

Foi recentemente publicado no periódico internacional Journal of the Society for Psychical Research um artigo de autoria de Everton Maraldi em que o pesquisador avalia, do ponto de vista científico, o fenômeno da mediunidade artística, em especial a psicografia (ou escrita mediúnica) e a chamada pintura mediúnica. O artigo em questão é fruto de sua pesquisa de mestrado (2009-2011) no Instituto de Psicologia da USP. Everton visitou instituições espíritas, realizou diversas observações de campo e conduziu entrevistas com 11 médiuns, no intuito de compreender o papel das crenças e práticas espiritas na formação da identidade e personalidade dos participantes. O estudo completo rendeu diversas análises, e o artigo a que nos referimos constitui apenas um apanhado de alguns dos principais achados.

Everton entende que a mediunidade não é uma categoria fenomenológica única, mas uma série de experiências que são interpretadas diferentemente pelos indivíduos conforme seus sistemas de crença e referências culturais. Alguns desses fenômenos podem ter causas ainda desconhecidas ou pouco compreendidas do ponto de vista científico, mas muitos outros se inserem no conhecimento disponível à psicologia. Everton nos mostra que a experiência da mediunidade depende de fatores individuais e contextuais os mais variados, resultando de uma construção intersubjetiva e psicossocial em que o fenômeno da dissociação pode desempenhar um importante papel. Nas experiências dissociativas, o indivíduo acredita que algo ou alguém atua em seu lugar, controlando seus movimentos, quando na verdade é ele o próprio agente. O pesquisador explica que esse fenômeno parece depender não apenas de sugestões e expectativas grupais, mas também da predisposição individual à absorção e ao envolvimento imaginativo, bem como de outros aspectos do histórico do indivíduo. Nesse sentido, algumas das habilidades julgadas pelos médiuns como provenientes dos espíritos podem advir deles mesmos.

"Devido à ausência de estimulação e encorajamento para desenvolver certas capacidades individuais, parte desses indivíduos pode se sentir desconectada de seus próprios recursos e criatividade, o que tende então a favorecer a eclosão de determinados potenciais latentes sob a forma de automatismos e fenômenos dissociativos, que são então atribuídos a entidades espirituais, dada a relativa autonomia e estranheza que causam ao indivíduo”. 

Everton reconhece que a amostra estudada é muito pequena, e que as hipóteses aventadas no artigo provavelmente não dão conta de todos os relatos de mediunidade, mas acredita que seu modelo explicativo merece maiores investigações. Outro artigo do mesmo autor, publicado em 2013 na revista argentina E-Boletín Psi, já havia abordado esse mesmo modelo explicativo tomando como objeto de análise o famoso caso de Chico Xavier (1910-2002). Everton defende que apesar de alguns dos fenômenos manifestados pelo médium ainda constituírem objeto de debate nos meios científicos e acadêmicos, partes importantes de suas experiências mediúnicas poderiam ser explicadas com base em sua personaidade e histórico de vida. Segundo Everton, "o grande desafio, principalmente do ponto de vista científico, é sempre o de separar aquilo que emana do indivíduo daquilo que poderia ter eventualmente uma origem anômala, a qual é denominada de espiritual pelos religiosos espíritas". Em uma revisão da literatura sobre as pesquisas experimentais brasileiras com médiuns, Everton Maraldi, Wellington Zangari, Fatima Machado e Stanley Krippner mostram que alguns estudos encontraram, de fato, evidências de fenômenos possivelmente anômalos ou paranormais entre os médiuns, mas que essa evidência não é conclusiva. As interpretações são também variadas. "Mais estudos são necessários e com maior rigor científico, o que estamos tentando empreender", afirma Everton.


O médium Chico Xavier, ao psicografar um texto

Em 2013, Everton Maraldi e Stanley Krippner da Saybrook University já haviam publicado no periódico internacional “Neuroquantology: An Interdisciplinary Journal of Neuroscience and Quantum Physics” um artigo com tema polêmico: é possível dizer que as chamadas “pinturas mediúnicas”, geralmente atribuídas a famosos pintores falecidos, correspondem, de fato, ao estilo desses autores? Por outro lado, pode-se dizer que o médium que manifesta tais habilidades vivencia um estado de transe ou dissociação durante a atividade de pintura, ou mesmo alguma predisposição individual para esses estados?

Pintura mediúnica atribuída a Juan Gris

Para avaliar tais perguntas, realizou-se uma avaliação neurofisiológica de um dedicado e colaborativo médium pernambucano de pintura mediúnica, conhecido dos pesquisadores, por meio de várias medidas (ondas cerebrais, batimentos cardíacos, condutância da pele etc.). A avaliação também incluiu a aplicação de testes psicológicos e análise do perfil social. Conduziu-se, ainda, uma análise das pinturas, comparando o estilo dos alegados autores espirituais com as pinturas feitas pelo médium.

Com base nos vários dados coligidos, os autores desenvolveram um modelo biopsicossocial daquilo que chamaram de “dissociação criativa”, uma forma de experiência presente no surrealismo e em certas manifestações artísticas e religiosas, a exemplo da pintura mediúnica.

O MÉDIUM COMO PESSOA

A corrente psiquiátrica do início do século XX reduzia o(a) médium, com frequência, a
pálidas classificações patológicas. O indivíduo, em sua complexidade, era diminuído até finalmente
chegar à condição de um doente passivo, ou ainda, de um astuto e mentiroso charlatão. De outro lado, havia também aqueles que  reduziam o(a) médium a um(a) mero(a) produtor(a) de fenômenos,
cuja única função relevante era a de fornecer as presumidas evidências do além túmulo ou de outras
extraordinárias capacidades, esgotando-se seu valor humano tão logo seus poderes se extinguiam.
Para Everton, "o que eu vejo nos médiuns de meus estudos são pessoas que, como tantas outras, buscam dar sentido às suas vidas, seus conflitos, seus equívocos, suas perdas e ganhos. A prática da mediunidade, não é para eles o efeito de um quadro doentio ou o precipitador desse quadro; mas um caminho de vida, um modo de ser, um projeto de vida, de caridade etc. que se estende ao futuro. São questões que igualmente merecem dedicado estudo científico".

PARA SABER MAIS:
Maraldi, E. O. (2013). El caso del medium Chico Xavier: una interpretación psicológica. E-Boletín Psi – Boletín Electrônico del Instituto de Psicologia Paranormal.

Maraldi, E. O. & Krippner, S. (2013). A biopsychosocial approach to creative dissociation: remarks on a case of mediumistic painting. Neuroquantology: An Interdisciplinary Journal of Neuroscience and Quantum Physics, 11(4). 544-572.

Maraldi, E. O. (2014). Medium or author? A preliminary model relating dissociation, paranormal belief systems and self-esteem. Journal of the Society for Psychical Research, 78.1 (914), 1-24.